Perder para ganhar

Outro dia assisti ao filme 127 Horas (127 Hours), protagonizado por James Franco e baseado na autobiografia do alpinista Aron Ralston. A história é perfeita para enxergarmos o quanto somos capazes de abandonar em prol daquilo que realmente importa.
Pensando nisso, tenho que confessar uma coisa e espero não decepcionar ninguém: eu tenho defeitos.
Sou grato a quem convive comigo e compreende meus defeitos (e quem convive sabe que tenho muitos). Todos devemos ser gratos aos outros por isso. Sem essa compreensão não seríamos nada, embora não possamos usar isso como desculpa para estagnar.
Realmente, ao longo da vida acumulamos muitas características. Umas necessárias, outras nem tanto e outras completamente desprezíveis. Distinguir cada uma dentro do seu projeto de vida e levar somente as necessárias para seguir adiante é onde está a dificuldade do negócio. Para isso, cada um precisa olhar para dentro de si todo dia e travar sua própria luta para evoluir. Assim, precisamos cada vez mais "perder" para ganhar, o que também não é nada fácil.
Nós temos uma capacidade enorme de acomodação. Pensamos que tudo está bem assim e que não precisamos mudar. Será?   Se realmente fosse assim, teria merecido crédito a Teoria da Evolução (Darwin e Wallace)?
Vejamos: como cristão, sou chamado a buscar a santidade (Mat 5, 48: "estote ergo vos perfecti sicut et Pater vester cælestis perfectus est"), isto é, deixar minhas imperfeições de lado para que prevaleçam minhas virtudes. O mínimo disso é comparecer à Igreja  ao menos uma vez por semana, porque lá, dentre outras coisas, serei forçado a olhar para dentro de mim e enxergar os meus defeitos. Mas,  cuidado: a prática errônea pode cegar a visão que temos de nós mesmos. Podemos ser levados a pensar que tudo o que é dito vale para o outro e nunca para nós, o que  seria um desastre. Além disso, conseguiríamos nos desenvolver se tivéssemos apenas uma refeição ao dia?  A frequência semanal é o mínimo (do mínimo, por assim dizer), que não dispensa uma leitura da Bíblia, a oração em família, uma participação em um encontro ou retiro ocasionalmente, etc.,  sempre com foco no "eu", que é por onde posso fazer acontecer as mudanças.
Por outro lado, no aspecto físico, as escolhas erradas também geram efeitos devastadores e se não admitirmos perder algo (abrir mão de certas comidas e bebidas, por exemplo) pagaremos altos preços, incluindo a própria vida.
Não se pode esquecer também de outro aspecto:  há muito tempo cheguei a pensar que psicólogos eram para loucos... 
Em todas essas dimensões, somos convidados a olhar para dentro de nós e perguntar se não podemos evoluir, ainda que para isso tenhamos que nos desapegar de algo.
A negligência em deixar de lado aquilo que nos pesa torna a viagem da vida muito cansativa e traz o risco de não  se chegar ao destino almejado. 
Felizmente, o ser humano é dotado também de uma capacidade enorme de se desapegar dos defeitos e de tudo o mais que o impeça de seguir bem com o seu projeto,  desde que aceite o sofrimento (isso mesmo: sofrimento!) que isso implica. O desconforto que surge quando tomamos a consciência na necessidade de desapegar-se de algo é um degrau que vale a pena ser transposto, embora não seja nada fácil e nem  perceptível de imediato aos olhos das outras pessoas.
Quanto ao filme, se puder, assista, mas não esqueça de tirar  as crianças da sala.

Comentários

VAL disse…
Ola!
Realmente nós só olhamos os defeitos dos outros e criticamos, esquecemos que nós também temos muitos defeitos, talvez até mais que os outros. Usamos a desculpa que estamos buscando a santidade indo a Igreja, mas quando saímos de lá voltamos a olhar para os outros, até comentamos que a homilia serviu para o fulano que as vezes não vem a Igreja.É verdade que Deus nos chama a cada domingo que mudemos isso em nós.Temos que refletir mosmo sobre isso.Val.