Terra nova


1.984 seria o ano do movimento "Diretas Já", que culminou na devolução ao povo do exercício do voto direto para a escolha do Presidente do Brasil. 
Seria o ano das Olimpíadas de Los Angeles, na qual pudemos sentir, com a Geração de Prata de Bernard, William & Cia. que era possível ao Brasil ser campeão olímpico de vôlei.
A vida teria também um dos maiores exemplos de superação e persistência, na pessoa da atleta Gabrielle Andersen, ao cruzar a linha de chegada da Maratona naqueles Jogos Olímpicos.
Aquilo tudo, porém, ainda viria a acontecer e o calor do mês de janeiro era imenso. O  cheiro de poeira da terra roxa recordava-nos que estávamos de volta ao solo panaraense, após o término das incursões pelas Gerais, de altos morros  e de rica cultura. Minas, que fora tão importante para minha infância, no entanto, passava para a minha história ao mesmo tempo em que Nova Cantu-PR tornava-se o solo fértil onde minha adolescência deveria continuar a produzir frutos.
Chegamos eu, minha família e uma tia, misto de amiga e irmã mais velha, a Maria José (Zezé para nós), que foi dar uma força com a organização inicial na mudança.
Não nos importamos com a casa simples, de madeira, que nos esperava, afinal em Minas não víamos casas desse tipo de material. Além disso, estávamos acostumados a ficar com as construções mais modestas, únicas que sobravam para locação aos moradores temporários nas cidades pelas quais passávamos.
Como não havia nada de nossa mudança em ordem num primeiro momento, a esposa do proprietário da casa, de nome Neusa, senhora muito gentil e de um coração imenso convidou-nos para almoçar, falou um pouco da cidade e de sua família. Tinha três ou quatro filhas, não me lembro ao certo. A mais velha era mais ou menos da minha idade e seu nome era Iria. Estudava em um colégio interno distante dali. Curioso é que, algum tempo depois, nas visitas e nas férias, acabou se tornando uma das minhas amigas.
O tempo passou, as aulas começaram e lá fui eu, com treze anos de idade, rumo à Sétima Série (turma da manhã) do Colégio Estadual Prof. João Farias da Costa. Tudo muito diferente de Minas. Não demorou muito para eu perceber que os anos de estudo puxado lá em Lagoa Dourada assegurariam uma vida escolar bem tranquila naquele ano e, com isso, tempo de sobra para me dedicar a coisas que realmente interessavam na adolescência, como firmar-me em um novo círculo de amizades, jogar bola e outras típicas da idade.
Logo de cara, fiz amizade com um guri de nome Márcio, cego de um dos olhos. O que lhe faltava na visão, porém, sobrava-lhe em desenvoltura e em capacidade de ser popular e fazer amizades. Criamos afinidade logo e com sua ajuda, em pouco tempo, fiz amizade com o David Gulka, o Edimilson Kracieski e outro menino que se tornou parceiro de grandes conversas, de nome Gaspar Copinski ("Copanski"?) Filho (o "Gringo"). Nessa época também conheci a Alessandra e, se não me engano a Simone, que também se tornaram minhas amigas.
Logo eu estava com os meninos brincando de bola na quadra poeirenta e descoberta do colégio, no intervalo e nas aulas de educação física. À tardinha ainda íamos ao campo de futebol da cidade, onde ficávamos até o pôr-do-sol, sempre que possível, pois alguns (não eu) já trabalhavam ocasionalmente na colheita de algodão. Lembro-me das preciosas horas em que, após os joguinhos, saíamos com o suor escorrido na face avermelhada de poeira, comentando os lances e rindo dos erros e os acertos.
Nas andanças, vez ou outra, encontrávamos com uma personagem  que os moleques faziam questão de azucrinar, a "Nair Louca". Com seus vestidos compridos, lenço colorido no cabelo e o rosto todo pintado de branco (com Pomada Minancora, dizia-se), a pobre senhora soltava uns xigamentos, rogava umas pragas e, não raro, atirava umas pedras. Só aquilo já contentava a nossa necessidade de autoafirmação (ou sei lá o quê) e saíamos todos correndo. Coisa de moleques mesmo. O problema era quando eu a avistava de longe estando sozinho ou apenas com meu irmão (menor), mas penso que era isso que tornava as brincadeiras atrativas para os meninos, ou seja, a perspectiva de um futuro enfrentamento sem o bando. Nada de grave vi acontecer de fato e a brincadeira foi perdendo o encanto à medida que o tempo passava...
Paralelamente, meus pais seguiam também formando  novos laços de amizade. Nessa época, meu pai ficou muito amigo do Yamada, na época gerente da COAGRU, e minha mãe da esposa dele, a Amélia. Eles tinham duas filhas, a Cíntia e a Christiane. Como também não eram "locais", as famílias ficaram bem próximas.
A city não tinha lá aquelas novidades em matéria diversão. Para bailes eu era muito novo e nunca fui de danças mesmo. Aos poucos comecei a frequentar uma lanchonete do Wanderlei Lopes, mas isso só de vez em quando. 
Naquele nosso primeiro ano, o pessoal do Banco Bamerindus encabeçou uma equipe para participar de uma disputa sobre a melhor equipe de festa junina da cidade.  
Os funcionários, dentre eles o Roberto, o Giba e outros cujo nome infelizmente não me recordo, eram muito animados e participativos.
Olha o detalhe da fantasia do meu pai
Não tinha nada de fantasias elaboradas como as de hoje, mas saiu cada figura! Vejam meus pais, por exemplo. Eu nunca havia visto os dois naqueles trajes. A criatividade foi tamanha que até uma galinha viva meu pai carregou! 
Acredite ou não, eu estou nessa foto!
No final, não é que a equipe do Banco sagrou-se a grande campeã?
A Igreja Matriz de lá, dedicada a Nossa Senhora de Fátima, era muito bonita. Infelizmente, nessa época minhas idas à Igreja se tornaram um pouco mais escassas. Hoje aquele templo está diferente, mais belo ainda, pelo que pude ver na web.
 Boletim da 7a - Notas
Mais ou menos assim, foi-se o ano de 1984 e minha experiência inicial em Nova Cantu. 
Boletim da 7a
Para a Oitava Série, no ano de 1985, eu teria que passar a estudar à noite. Não havia tal série de manhã, pois, com quatorze anos, os jovens tinham que trabalhar. 
Isso, contudo, é história para uma nova postagem, em que falarei de outras amizades, inclusive de algumas pessoas com as quais obtive contato recentemente, o que me deixou muito feliz.

Comentários

Liliana Sobieray disse…
AMEI, Wellington! Me fez dar boas risadas e puxar pela memória... A 'lenda' Nair Lôca era impagável... Mal posso esperar pelo próximo capítulo! hehehe Bjos
VAL disse…
Relembrar o nosso passado é bom, a gente vê que a vida passa, que devemos mesmo aproveitar o momento e viver bem. Abeaços Val.
Jaqueline Copanski disse…
Olá sou irmã do Gaspar Copanski Filho,fiquei feliz ao ler o comentário sobre ele;
Vocês: da mesma idade, do mesmo mes- janeiro, ambos moram em Maringá.
Sou farmacêutica e retornei a N. Cantu, estarei deixando nº da farmácia, terei o prazer em passar o nº do Gaspar.
Abraços
Jaqueline Copanski disse…
44-35271765
Do pessoal que você cita...
A Iria continua aqui, Davi- Umuarama,
Edimilson-Tocantins, Alessandra, a qual é nossa prima 2ª,está em Miami,
somente o Marcio, eu não sei...
Até mais.
Unknown disse…
Nossa amigo, lembro de você, acho que estudamos juntos, eu era o goleiro do time de Handebol do professor Edno, mas lembro que jogamos juntos no time no Balecão, contra o time de futebol do aurélio, eles sempre ganhavam, hoje moro em curitiba, casado com uma filha de 14 anos, advogado.

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