Pensando no filhote

Quantas vezes deixamos passar a change de ir adiante enquanto pessoas? Nas grandes ou nas pequenas coisas da vida, somos constantemente chamados a seguir em frente, evoluindo, e muitas vezes, de forma inocente e sem maldade, permanecemos parados. Em algumas ocasiões isso ocorre porque não fomos suficientemente motivados, mas na maioria das situações não nos deixamos inspirar a praticar boas ações que nos permitam crescer.
Quem já assistiu ao filme "A Volta do Todo Poderoso" (Evan Almighty), 2007 (USA), com Steve Carell e Morgan Freeman, pôde sentir que interessate atualização do evento bíblico envolvendo Noé e sua família foi pensada, mesmo em forma de comédia. Na história, como na Bíblia, verifica-se que de nada adiantariam as intervenções do Divino, se o personagem Evan Baxter não se deixasse inspirar. Acredito que nesse ponto está toda a confirmação do livre arbítrio, pois, de fato, Deus respeita a liberdade de cada um, embora não desista de acreditar numa resposta positiva de nossa parte para a melhoria do mundo em que vivemos, que, no filme, é resumida numa "A.titude R.eal de C.arinho e A.mor" (ARCA) a cada dia, segundo a versão em português que assisti.
O contexto da história encaixa-se muito bem no que eu pensava enquanto acompanhava, no sábado, dia 27 de novembro, à inauguração de mais uma casa no Núcleo Social Papa João XXIII, em Maringá, para a qual eu e todos os servidores da Justiça Federal havíamos sido convidados durante a semana pelo Juiz Federal, Dr. José Carlos Fabri. Há alguns anos ele motiva cada um dos colegas da instituição a uma atitude simples, que não requer grande esforço, mas que, em conjunto com outras, contribui para que seja feita a diferença na vida de algumas pessoas: destinar parte do imposto de renda devido ou a restituir a uma instituição específica do Município, no caso, o Núcleo, por meio de recolhimento feito ao Fundo Municipal para a Infância e Adolescência (F.I.A.) de Maringá. O Fundo, por sua vez, repassa 80% do valor arrecadado à entidade que fez a arrecadação, transferindo os outros 20% às demais entidades assistidas.
O interessante é que nem mesmo se trata de doação, mas mera destinação de imposto de renda para quem apresenta declaração no modelo completo: quando se tem imposto a pagar, a "doação" é deduzida do valor do imposto a recolher; se há imposto a restituir, é acrescida diretamente no imposto a restituir. Isso fica ao alcance de muitas pessoas nos municípios onde estão devidamente organizados os conselhos criados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 13/07/90) e responsáveis por captar e aplicar os recursos.
Apesar de fazer a destinação há alguns anos e de conhecer os contornos do principal programa do Núcleo, escolhido em função da seriedade na atuação, não compareci ano passado à solenidade, mas, atendendo ao convite pessoal e, não posso negar, à voz da minha própria consciência, estive agora na inauguração da segunda residência em alvenaria construída integralmente a partir da destinação do imposto pelos servidores e juízes da Justiça Federal de Maringá.

Família que utiliza a residência inaugurada
Sob um calor intenso, numa cerimônia simples, dois juízes federais, alguns servidores da Justiça Federal de Maringá e um da Justiça do Trabalho, funcionários do Banco do Brasil, rotarianos, voluntários do Núcleo, as irmãs que lá prestam serviços e, principalmente, as famílias beneficiadas presenciaram a inauguração da casa e do chamado "Espaço Criança".
A importância das casas encontra-se na finalidade do programa, que tem por objetivo a restauração do vínculo familiar, tendo como pano de fundo a conquista da casa própria, a fim de propiciar às crianças e adolescentes condições dignas de vida. Não, ao contrário do que possa parecer, a casa não é doada aos moradores, mas eles apenas adquirem o direito, mediante certas condições, de ali permanecerem  temporariamente. Posteriormente, após se firmarem em um novo emprego e obterem condições de vida independente, inclusive de adquirirem ou darem entrada na aquisição da  casa própria, os moradores deixam a residência, que então é utilizada para a restauração de outra família. Modelo de fácil compreensão teórica e de resultados eficientes na prática, ultrapassa a ideia de religião ou credo e vai ao cerne dos problemas sociais.
Como bem lembrado pelo Dr. Fabri, o trabalho mais simples é o da destinação. O mais complexo é o desenvolvido pelas irmãs e voluntários(as), dia após dia, acompanhando a vida de cada uma daquelas famílias com todas as suas nuances.

De qualquer forma, embora simples, seria muito bom que mais pessoas se deixassem inspirar pela atitude daquelas que ousam fazer a destinação, contribuindo para o futuro de alguém, igual a quem "pensa no filhote do filhote que ainda vai nascer", como diz a música que o coral das crianças do Núcleo apresentou

    
naquele dia.
Interessante também é que só posteriormente, ao principiar essa postagem e acessar pela primeira vez a página inicial do site do Núcleo para confirmar algumas informações, constatei que uma das imagens atuais é justamente de uma pombinha branca com um ramo de oliveira no bico.
 
Da esquerda para a direita: eu; José, marido da Edna e servidor da Justiça do Trabalho;  Edna (servidora da  JF); Ednaldo (servidor JF) e Dr. Fabri, ambos descerrando a placa; Dr. Cristiano (Juiz Federal) e Hugo Hoffmann, atual Presidente do Núcleo.





Comentários

Unknown disse…
Muito bem, Wellington. Pequenas atitudes que, somadas, fazem a diferença. Espero que este blog influencie mais pessoas a destinarem seu I.R. a esta ou outras instituições. Fabri.