A autêntica dor de cotovelo

O local da dor, para quem não conhece.
Quando levantei, senti aquela dor à qual me referi em "A missão". Olhei para o braço direito e vi que estava fora do lugar. Deu aquela tontura e a dor parece ter ficado ainda mais forte.
Claro que eu não imaginaria enfrentar aquilo, até porque minha passagem por Nova Cantu seguia, digamos, normal para um adolescente. Saíamos do colégio e, como a cidade era pequena e sem "perigos", parávamos em frente à casa de algum amigo ou amiga pelo caminho e conversávamos sobre o nosso mundinho até o sono bater. Ríamos, comentávamos os fatos mais interessantes da vida estudantil, os que se passavam à beira da piscina, confidenciávamos nossos sonhos.
Naquela época, além dos irmãos Bueno, eu conversava muito com o Gringo, a Liliana, a Rosângela, a Iria, a Wanda, a Simone, dentre outros que já citei antes. É claro que já rolavam uns namoros, inocentes perto de muitos de hoje, mas o importante, e o que ficou mesmo acima de tudo, foram as amizades.
Olhando para trás, tenho que reconhecer o esforço que alguns daquela sociedade faziam para dar sentido à vida daqueles jovens.
Uma pena, mas dessa época, retive muito pouco da Igreja. Não chegaram até mim convites para participar de encontros de jovens ou algo parecido que pudesse desencadear uma frequência mais comprometida. Limitava-me a "ir" à Igreja, ocasionalmente. Hoje vejo o quanto é importante a evangelização na infância, parece que ela é que nos impulsiona no retorno em direção a Deus e à Igreja.
O que alvoroçava a gente mesmo era a chance de fazer um joguinho, ainda que amistoso. Nesse objetivo, rumamos para Campina da Lagoa-PR para jogar com as equipes masculina e feminina locais, mais experientes que as nossas.
Até onde me lembro, o jogo estava mais ou menos equilibrado, mas tomamos um gol e, no retorno, eu escorreguei no piso do ginásio e caí.
Fui levado para o vestiário e enquanto aguardava um diagnóstico mais preciso, vi entrando pela porta o William, um outro amigo do nosso time, com um dos olhos quase fechado de tão inchado e com sangue escorrendo pelo rosto. O coitado tomou uma cotovelada que lhe abriu a parte superior de um dos seios da face, logo após a minha contusão.
Quanto a mim, mandaram-me para Ubiratã-PR, cidade maior e com mais recursos, para uma radiografia, que, afinal, revelou uma luxação no cotovelo direito. Coisa simples, cuja dor só quem já sentiu sabe. Para resolver fui submetido a uma anestesia.
Lembro-me apenas que estava deitado, meio assustado, e as conversas foram ficando distantes, distantes, até que fui acordado, já de noite, para voltar para casa.
Nos dez dias que se seguiram, fiz prova com a mão esquerda no colégio, parei com o curso de datilografia (será que ainda existe isso em algum museu hoje?) e eu e o William curtimos um pouco os troféus da batalha e a glória de ter histórias para contar.
O ano já estava no final e preparávamo-nos para a formatura da 8ª Série.
Eu não sabia, mas meus dias de morador daquela cidade, também estavam chegando ao fim...

Comentários

Liliana Sobieray disse…
Calma com o texto da formatura, pois este será SUPER ilustrado, te mando até o fim de semana EU PROMETO!!! Bjos e como sempre arrasou no texto ADORO!!!