Tinha que ser comigo

Como todo o "mortal normal", tive que renovar minha Autorização para Dirigir, ou seja, a Carteira Nacional de Habilitação ou CNH. Isso mesmo, a antiga e famosa "Carta". Puxa, custei a aprender a dirigir. Lembro-me do meu pai estressado com minhas barbeiragens aos quatorze anos. Coitado, certa vez até dei uma ralada feia com um Fusca dele no portão de casa, em Nova Cantu-PR. Fiquei meio traumatizado e custei a pegar de novo no volante, o que só aconteceu com mais segurança depois que aprendi a andar de moto, em Maringá, com a ajuda de um amigo, o Cleverson, que era bom no volante desde moleque. Daí decolei e tirei a "Carta".

Gozado que cada vez que tenho que renovar o tal documento, acontece alguma. Parece-me que outros vão, renovam e seguem sem história. Mas comigo, não. Tem que acontecer algo!

Na renovação anterior, cuja validade ora espira, cheguei todo "faceiro" e saí sem a "carta". O danado do médico reprovou-me no exame "de vistas" por uma "ninharia de nada" de astigmatismo e miopia. Vá lá! Fiz os óculos... E não é que, apesar de sentir-me inicialmente um tanto "deprê", meio velhinho mesmo, o troço acabou com umas dores de cabeça que eu tinha no final do expediente. Pensei: "Da próxima faço exame antes e vai ser moleza..." Foi não, mas por outros motivos. 

De cara, lembrei-me da necessidade de prestar a prova teórica de "Direção Defensiva e Primeiros Socorros", porque a primeira "carta" era de antes de 1998 e eu não tinha feito. Estudei as apostilas e fiz vários simulados. Estava pronto.

Depois do encaminhamento do processo administrativo, muito bem organizado, diga-se de passagem, agendei e prestei o teste eletrônico, empolgado com a  tecnologia. Meio apreensivo, perguntei o resultado, tendo como resposta: "Parabéns, você acertou todas!"

Todo animado, fui marcar o Exame de Aptidão Física e Mental, que inclui o tal exame oftalmológico, pensando: "Antes dele, passo no meu médico e vou na certeza; do contrário as crianças ficam sem motorista". Disse-me a servidora: "Olha, tivemos uns probleminhas com as clínicas credenciadas e a primeira data que eu tenho é para daqui a trinta dias. Já expirou o prazo de validade de sua CNH?" Venceria em dois dias. Com mais trinta dias "de graça" concedido pela legislação, daria tempo.

Marcada a data do exame, agendei consulta com meu oftalmologista, que constatou: "Tudo certo. Não precisamos nem mexer nas lentes."

No esperado dia, 10 de março, parti bem mais cedo rumo à UEM, Bloco A-01. Enquanto caminhava, lembrei-me de ter ingressado naquela Universidade no primeiro semestre de 1990, ou seja, há exatos vinte e um anos. Estranho transitar lá dentro depois de tanto tempo, uma vez que os outros cursos que fiz foram em outras  instituições. As vozes dos colegas de turma que há muito não vejo pareciam ecoar em minha mente. Que saudade!

Cheguei uns quarenta minutos mais cedo, pensando que poderia ser atendido antes das "11 horas e 06 min.", horário agendado. Equívoco. Embora houvesse um movimento de pessoas bem fraco, após responder rapidamente o questionário das condições de saúde, tive que esperar até que pontualmente às "11:06" fosse chamado. Podia ser pior, né? Podia atrasar...

Durante o exame, o médico solicitou que eu lesse cerca oito linhas. Algumas com um só dos olhos e outras com os dois. No final concluiu: "Você foi aprovado. Seu astigmatismo está bem corrigido. Acertou todas!" Saí de peito estufado. Agora era só esperar a CNH pelo correio, embora os trinta dias de graça vencessem em dois dias e o prazo para entrega pelos Correios fosse de cinco a dez dias. Dos males o menor. Era só ter cuidado.

Já no serviço, contei para o Wagner que eu havia lido umas oito linhas, que tinha acertado todas e tal. Ele estranhou: "Verdade? Renovei recentemente, nas minhas férias, e só pediram para ler uma única linha..." Pensei: "Deve ser por causa da minha idade!"

Tinha que ser comigo.