Raízes

Creio que já ficou evidente pelos posts anteriores que a figura dos avós marca profundamente minha vida. Eles consubstanciam minhas origens. 
Desde que perdi minha última avó, há pouco mais de dois anos, passei a considerar ainda mais as duas avós da Leila, minha esposa, a Vó Ester e a Vó Aparecida. Sempre as respeitei e admirei, da mesma forma como a Leila procedeu em relação à minha única avó que ela conheceu. Isso contribuiu muito para que nosso sentimento de família e de unidade se tornasse cada vez mais nítido. Nunca deixamos de mostrar aos nossos filhos a importância dos avós, bisavós e tataravós.
Dia 18 de Janeiro, contudo, nossa família devolveu para Deus a (Bisa)Vó Ester (paterna). Parece incrível, que, apesar de ainda ecoarem vivos na memória os momentos alegres que passamos em sua casa no reveillon, ela já não está fisicamente entre nós. Nas lágrimas de meu filho João Pedro relembrando esse dia em especial, tive a certeza de que a bisavó também marcara profundamente sua vida.
Tinha 85 anos completos e "bem vividos". Mulher forte, sepultou dois maridos. O primeiro deles, falecido em decorrência de acidente, há muitos anos. O segundo, o Vô Kososki, foi-se há três anos.
Ela, com seu jeito humilde e quase silencioso de ser, foi elo de ligação entre a prole dos dois casamentos. Procurou fazer de todos uma única família. E não há dúvida de que conseguiu. A discordância de um ou de outro, em uma ou outra situação, é coisa natural entre família. O essencial ela transmitiu: que todos deveriam, nessa condição, suportarem-se uns aos outros. E dizendo suportar aqui, quero deixar bem claro, é algo que considero imprescindível numa família, no trabalho, na faculdade, enfim, em qualquer lugar onde se tenha que viver coletivamente. Tendo em conta as diferenças de cada ser humano, cada um deve suportar o outro, com o objetivo de manter algo muito maior, no caso, a família. Suportar é mesmo uma face do amor, do ágape, no sentido da caridade (amor doação) ensinada por Jesus, tanto que São Paulo deixa isso expresso na Carta aos Efésios. Isso a Vó Ester ensinou muito bem.
Cumpriu sua missão de matriarca. Se tivesse que corrigir filho ou filha, neto, ou qualquer outro dos seus, fazia isso de forma firme, do alto de sua autoridade familiar, mas com caridade. 
Ela também não negava o perdão, que, como se diz, é a "atitude dos fortes". Não fazia questão nenhuma de dar relevância àquelas "coisinhas" que nascem da convivência e que os menos evoluídos tendem a exagerar para, numa tentativa medíocre, ampliar a própria importância. 
Outro exemplo da Grande Senhora: não deixou jamais de eleger horizontes em sua vida. Mesmo após ser forçada a utilizar-se de uma cadeira de rodas, não desistiu de voltar a andar sem auxílio, estabelecendo isso como meta a alcançar. Distribuía sorrisos a todos que a visitavam, especialmente nas ocasiões festivas, quando fazia questão de participar de todas as brincadeiras, como no último reveillon em sua casa.
Nas últimas homenagens pude observar a dor de cada um de seus filhos, netos e bisnetos, genros e noras. Desde os mais novos até os mais velhos, todos expressaram o quão difícil era a separação e o quanto a respeitavam. Mesmo os que, inconsequentemente, há tempos não a visitavam, sucumbiram diante da grandiosidade de sua pessoa e compareceram ao menos para um último adeus.
Seus irmãos e irmãs da Igreja Evangélica Assembleia de Deus também manifestaram a grande importância de suas atitudes simples. 
Na Igreja, pudemos ver um breve vídeo com fotos e pequenas filmagens de momentos felizes com ela, inclusive em família, mas comoveu-me particularmente uma foto antiga colocada sobre a mesa onde foi servido o almoço aos familiares em que a Vó aparecia sorridente, trabalhando naquela mesma cozinha da Igreja. Que lindo exemplo!
No sepultamento, enquanto caminhava na grama recém aparada do Cemitério Parque de Maringá rumo ao ato derradeiro, pude verificar as pessoas se aproximando lenta e calmamente em direção ao jazigo. O céu ainda estava cinzento e lembrava a chuva torrencial que caíra há pouco, mas, apesar da tristeza, eu sentia a reverência a iluminar os gestos dos presentes. Na salva de palmas, cada um teve a oportunidade de demonstrar seu reconhecimento por tudo que dela recebeu.
Após o desfecho, enquanto voltávamos, as nuvens deixaram que a luz do sol revelasse toda a beleza e a calma do local, ressaltando o colorido das flores e o verde das árvores, como que para nos assegurar que a Vó descansava em paz mesmo. 
Levarei para sempre suas lições e o carinho que sempre demonstrou ter por mim e meus filhos.
 

Encontro de gerações realizado há alguns anos:(da direita para a esquerda) Tataravó Luiza (mãe da Bisavó Ester); Bisavó Ester (mãe do Silas, meu sogro); Silas (neto), Leila (bisneta) e Isabela (a tataraneta).
1º/01/2011: Leila,  Vó Ester e eu. (Ao fundo, de amarelo, nosso moleque João Pedro).

Comentários

Unknown disse…
saudades dessa maezona!