A prova

Era noite de terça-feira, por volta das 20 horas e 30 minutos. Certamente ele estava feliz no seu primeiro dia de férias e faltavam apenas uns quinhentos metros para chegar em casa, descansar nos braços da esposa e curtir as duas filhas, sua linda família. Se houvesse tempo, antes de apagar a luz da garagem para dormir, ainda poderia, antes de ir dormir, dar uma olhada no Opala marrom que estava restaurando.
O suor, apesar do friozinho da noite, devia escorrer-lhe pela face. Quem sabe ele até estivesse arriscando uma "forçadinha", pelo condicionamento que vinha adquirindo, afinal, a prova escrita do concurso se aproximava e, com ela, a iminência do teste físico que o motivava a estar ali na rua àquela hora.
Talvez ele até tenha percebido a aproximação do Fiat Uno pela suas costas, mas não pôde reagir.
Na reportagem fria do jornal do dia seguinte, o título dizia apenas que o trânsito maringaense fizera sua vigésima nona vítima no ano.
Tantas vezes havíamos visto reportagens semelhantes e por mais que tenhamos pretendido nos colocar no lugar das famílias, só agora, com a partida do Evandro, pudemos compreender de verdade semelhante dor.
Saber que ela partia agora, vivendo em harmonia e feliz com a família que ele conquistou, reconquistou e aprendeu a valorizar cada vez mais conforta, mas não faz desaparecer a dor causada pela interrupção abrupta. Queria ele conosco para ver a Lorena e a Eloísa crescerem, para ver ele se emocionar na festa de quinze anos delas e nas bodas dele e da Patrícia e tantas outras coisas, mas fisicamente isso não será possível.
Por mais que se possa tentar subverter os fatos, quanto um ponto ninguém tem discordado ao analisar as circunstãncias do acidente: a causa maior da consequência drástica foi a alta velocidade.
Até quando? Até quando se vai gritar  sobre os perigos do excesso de velocidade sem obter resposta?
A pressa, a arrogância de se achar senhor(a) de toda a situação, cega a humanidade, que continua acelerando e tirando vidas inocentes, deixando apenas a dor e a saudade.
Direção não é brincadeira, por isso, se não estamos bem física e emocionalmente, devemos pensar bem antes de pegar no volante.
Ainda feliz com a celebração da Páscoa ocorrida no domingo, não podia imaginar que tão cedo teria minha fé na Ressurreição posta à prova.

Foto em 15/02/2010
Comemorávamos o aniversário da Isabela

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