O lado oposto ao de fora

"Das verdades que eu sabia só sobraram restos que eu não esqueci"
("Meu mundo e nada mais", Guilherme Arantes)

Arquivo pessoal. Jan/2020.

Dois anos. Dois anos afastado daqui. Nesse período experimentei profundas mudanças na vida pessoal, encerrei ciclos, pus sob novas luzes valores antigos, vivi situações que afetaram profundamente minhas condições de aqui me expressar.
Este espaço, desde a criação, sempre foi motivo para compartilhar minha vida, principalmente como fragmentos de memórias, coisas simples e limitadas, apenas percepções pessoais de um mundo particular, sem qualquer intenção de convencer quem quer que seja, servindo, quiçá, como uma lembrança aos meus filhos.
Escrever aqui, contudo, a par da distração que me proporciona, força-me a olhar para o lado oposto ao de fora, remexer o que há escondido. 
Nesses dois anos vislumbrava muito pouco a dizer, apenas a refletir. Minha casa interior estava revirada e apesar dos móveis essenciais estarem no lugar, havia muitas coisinhas espalhadas a serem realocadas, ressignificadas ou descartadas. Tenho consciência de que é um processo ainda em curso, mas a coragem de vir novamente foi retornando e aqui estou. 
Quanto principiei com o blog, há dez anos (!!), jamais imaginaria voltar após dois de ausência e quase sete semanas sendo obrigado a trabalhar remotamente, a partir de minha casa, com recomendações para não sair à rua.
Tempos de Pandemia, palavra que tinha um significado um tanto vago para a maioria de nós e que no momento impera nos noticiários e me impõe evitar visitar meus pais e filhos. 
A distância, contudo, não impede nosso contato, afinal, estamos na era digital e podemos continuar conversando e, oxalá, olhando na mesmo direção, apesar da dolorosa distância física.