Depois do raio

Pensa num cachorrinho folgado...
Dificilmente algo fica o mesmo depois de um raio. Contei aqui sobre quando o Bolt "caiu" em casa e sobre alguns momentos depois disso, mas um cão sempre nos faz refletir. Quem tem um sabe disso.
Passaram-se dias, meses e anos. Nossa família mudou. Teve que mudar. À medida que foi crescendo, o Bolt foi mostrando sua personalidade. Amigo, companheiro. Engraçado como eles sentem quando não estamos bem por alguma razão, não é? Vem, como quem não quer nada, fica encarando com aquele olhar melancólico e deita-se parecendo dizer "tô aqui, esquenta não!".
A primeira vez que o deixamos hospedado foi muito estranho, pois parecida que jamais se lembraria de nós. Nada. Quando nos viu, mostrou que éramos realmente importante para ele. Ele podia me ensinar a ser assim e mostrar para as pessoas o quanto elas significam de verdade, para além das aparências.
Desde filhote, notamos uma hérnia na barriguinha, mas tínhamos que deixar que crescesse um pouco  com ela. Por volta de seis meses de vida, aproveitando a necessidade de extrair uns dentes que teimavam em não cair, optamos por operar a hérnia também. Nossa, foi difícil! Somos muito "à flor da pele". Exacerbamos as coisas alegres, tristes, falamos alto, cobramos demais, etc. Somos assim. Confiamos muito no profissional que o operou, mas foi bem chato deixar o Bolt para ser "apagado" e operado. A cirurgia foi um sucesso e em pouquíssimo tempo ele ficou ótimo. 
Cada momento foi mostrando como ele passou a fazer parte da nossa família. Até mesmo minha mãe e minha sogra que não são muito chegadas a cães acabaram se rendendo à simpatia dele.
Agora, passado algum tempo, parece que tudo nos preparava para o que viria.
Véspera de Natal de 2012, fomos todos à igreja e deixamos o Bolt sozinho em casa, como sempre fizéramos desde que ele chegou. Durante a celebração, choveu e trovejou muito e, para piorar ainda mais, houve intensa queima de fogos de artifício. No retorno, ansiosos e famintos, deparamos com rastros de sangue pela casa, o batente da porta da sala quase arrancado e o Bolt estranhíssimo, andando de um lado para o outro. Havia ficado com medo da tempestade. Foi uma cena de horror, como se diz. Choro, gritos, desespero. Ainda bem que a Tia Léo e a Mari, sua nora, estavam aqui. Ajudaram a lavar as patinhas e a passar remédio, limpar a casa e tudo mais. E nós fomos para a ceia obrigados a novas adaptações...
Não pudemos mais deixar nosso pet sozinho desde então, pois ele sempre insiste nesse comportamento de tentar escapar e acaba se machucando. Descobridos que ele sofre de ansiedade de separação. Dentre as soluções mágicas apontadas, descartamos os remédios que muitos usam, afinal, seria uma incoerência ser radicalmente contra álcool e tudo o que tire o controle dos nossos atos e aceitar algo com efeitos do gênero para nosso amigo. Profissionais de comportamento canino são uma alternativa cara. Sobrou-nos a alteração em nossa rotina, evitando o quanto possível que ele fique só, inclusive deixando-o hospedado. E assim vamos indo.
Aos olhos de alguns, acredito que parecemos mesmo loucos em fazer sacrifícios desse tipo, mas pensamos bastante antes de optar por um pet e tentamos ser coerentes com nossa opção. Muito compram ou adotam o animalzinho e, quando ele se acostuma com o novo lar, já estão entediados e cansados das suas necessidades. Penso que, guardadas as proporções, há uma pedagogia divina também no zelo com os animais, afinal, se aprendemos a cuidar deles, quem sabe tenhamos sensibilidade para cuidar dos nossos semelhantes.
Neste ano, para evitar nova hospedagem, decidimos que ficaremos eu e ele em casa enquanto o restante dos meus vai à celebração da noite, antes da ceia em família. Prefiro acordar mais cedo no dia de Natal para ir à  Igreja. Desta forma, garantimos o bem-estar dele. E o nosso. Questão de adaptação. Um ótimo Natal para todos.

Comentários