Pensar e calar

Eu, minha barba e minha sobrinha mais nova Ellen.
Fim de ano. Vejo gente apressada a programar as férias, a contar milhas aéreas, a pensar no IPI reduzido e, por isso, a sonhar com o carro novo. Outras pessoas pensam em como pagar a plástica que imaginavam, em vão, fosse a porta da felicidade e da aceitação. Também vejo instituições fazendo mudanças. Quem será o novo gerente, a nova chefe de setor ou  como ficará o novo layout com as reformas? 
A superficialidade da preocupação com o consumismo ou com as mudanças meramente exteriores servem para nos aprisionar e nos desviar do nosso ser.
Na experiência de tentar mudar o interior, onde está a essência, nem todas as pessoas ousam tocar e, talvez por isso, muitos só enxerguem o superficial. Curioso como a gente tende a ver a casca. Nesse sentido, a visão, dom maravilhoso do Criador, fecha nossos outros sentidos.
E.Angelina Medrado. Foto: Lethícia Bernardes, LD-MG
Certa vez, jogávamos bola no antigo pátio da Escola Angelina Medrado, em Lagoa Dourada-MG e, não sei por que, fiquei enfurecido com o "Tiãozinho". Ele era magrinho, franzino, porém terrível, implacável nas gozações. Coisa de moleque. Nem sei o que houve. Lembro-me que ele saiu correndo rua abaixo e eu peguei uma lasca de "reboco" que havia soltado do muro e joguei de longe. A lasca foi voando numa trajetória meio em curva rumo ao guri. Lá pelo meio do trajeto, arrependi-me. Era tarde. Não dava para puxar de volta o artefato "bélico". Meu coração disparou ao perceber que minha pontaria seria certeira: direto na fronte.  Nunca mais me esqueci do episódio. Ficou na memória para me lembrar da importância de pensar e calar antes de qualquer atitude. Não é fácil, mas deve ser uma busca constante.
E. Angelina Medrado. Foto: Lethícia Bernardes, LD-MG.
Emagrecer é uma experiência mística, mas poucos sabem. Para emagrecer sadiamente, precisamos travar uma batalha interior e aprender a dominar um desejo fortíssimo, tendo em vista que comer é ato básico para a nossa sobrevivência. Quando emagreci muito, pessoas vinham até mim e perguntavam o que estava havendo, se estava tudo bem. Outras perguntavam na "lata": "Você está doente?"
Claro, aprendi a lidar com isso, até porque outras vinham com respeito e perguntavam o que podiam fazer para também atingir os mesmos resultados, sentindo-se motivadas a reduzir seu peso corporal também, de uma forma saudável. É muito confortante saber que você conseguiu inspirar alguém a melhorar em algum aspecto.
Agora, para dar um "descanso" à pele, deixei minha pobre barba já esbranquiçada crescer um pouco. Fazer barba todos os dias cansa, mesmo para quem, como eu, tem a chamada "barba rala". De novo as perguntas e as brincadeiras... Não me incomodo com elas em si, especialmente das pessoas que são próximas e não querem de forma alguma ofender.
Nas duas situações, emegrecendo ou deixando a barba crescer, contudo, confirmo a dificuldade de se ver além das aparências e de ter autocontrole. Também de exercitar, como deveria ter feito quando joguei o reboco no menino, o dom da paciência. E como tem gente disponível para ajudar nisso, não?
Os da minha convivência mais próxima sabem que busco melhorar meu interior e minha convincia. Não procuro agradar sempre, mas dizer a verdade. Não sou perfeito, faço o melhor que minha limitação permite. Tenho tentado, de verdade, durante toda a minha vida tomar consciência do que faço. Todas as vezes que me esqueço disso e tenho que arcar com as consequências, vejo o quanto ainda tenho que melhorar. 
Depois daquele episódio, minha amizade como Tiãozinho continuou a mesma, pelo menos até onde me lembro, até recebi recentemente um e-mail dele, depois das postagens anteriores sobre Lagoa Dourada-MG. Para minha sorte, ele era muito ágil e desviou do objeto lançado no momento exato, por questão de milésimo de segundo. Ufa!

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