ANENCEFALIA
Para os leitores, reproduzo um artigo interessante sobre tema atual, escrito por um estudioso, com autorização dele, que "por acaso" é meu compadre.
Visão Teológica
Por Nadimir Quadros[1]
Teólogo
ANENCEFALIA
Os casos de
anencefalia envolvem questões científicas relacionadas com questões religiosas
e morais, ou vive-versa, são de uma insatisfação terrível, pois, quem é contra
não sabe se posicionar, e os que são a favor muitas vezes estão no plano
superficial do assunto, ou seja, falam como um papagaio sem nunca ter tido a
experiência de ter de passar por uma situação semelhante.
Toda lei sempre irá
se posicionar para o geral e tendo a dificuldade de abranger as áreas do
particular. Nossas leis são frágeis, assim como o nosso legislativo, que parece
legislar para um senso comum, sem ter um parecer sério de especialistas das
várias áreas, e que não estejam vendidos para o mercado da farmacologia e do
ramo hospitalar. Para viabilizar uma lei dessas muitas coisas estão envolvidas,
desde estruturas hospitalares e financiamento de remédios pré e
pós-operatórios, assim como diárias hospitalares, procedimentos cirúrgicos
especiais, etc, tudo pago pela rede pública de saúde que aumenta a receita de
hospitais e laboratórios farmacêuticos. O ser humano está vendendo a sua alma
para o mal à custa de um capitalismo sangrento que visa somente a
artificialização da vida e o menosprezo pelos valores sociais, que com muita
luta se conquistou em outros tempos em que o ser humano era tratado como
objeto. E esses tempos irão retornar caso as pessoas cruzem os braços.
Com respeito à
anencefalia, eu desconheço algum caso em que a criança tenha sobrevivido por
muito tempo, ou seja, por mais de três anos. Mas o grande enunciado daqueles
que apóiam o aborto nesses casos está sobre o sofrimento que a mãe passa em ter
uma gravidez que gera uma criança que estaria clinicamente morta. Mas a
pergunta é se é possível eliminar um sofrimento através de outro sofrimento?
Além de se ter uma semi-vida no útero, com nenhuma possibilidade de
sobrevivência, futura, ainda se optará por antecipar a morte deste ser?
Nós teólogos temos
uma posição que leva em conta que cada caso deve ser avaliado com honestidade e
responsabilidade, tanto existencialmente moral como cientificamente ético. Vou
citar apenas dois exemplos para não me estender. No primeiro caso temos uma mãe
que está gerando um feto anencéfalo, cuja tristeza lhe corrói as entranhas e
lhe causa questionamentos terríveis a respeito da vida e sobre os desígnios de
Deus. Neste caso então, a mãe decide levar a gravidez até o final, mas seu
filho nasce com uma anencefalia em que não existe cérebro, mas existe o Bulbo e
a Ponte que ficam logo abaixo na base do cérebro. Nesse caso a criança nasce e
age apenas por reflexos, mas, não raciocina sobre suas vontades ou escolhas.
Ela mama por reflexo, come, ri como se estivesse diante de um espelho quando vê
a mãe rir, mas não comanda nada disso. Se a mãe tomar a decisão de levar essa
vida em diante, muitas vezes todo o sofrimento de não ter uma criança saudável
é compensado por uma vida de amor incondicional, e quando acontecer da criança
morrer, a mãe terá sublimado todo esse sofrimento na entrega deste amor
incondicional, e a morte da criança terá outro referencial na vida dessa
família.
O outro exemplo é de
pessoas que construíram suas EPs (estrutura de pensamento) em condições muito
precárias. Não são pessoas más, mas pessoas com um edifício psicológico de
bases muito frágeis que não têm suporte para sustentar situações de extrema
exigência problemática. Essas pessoas optam por “cortar o mal pela raiz”, optam
por não levar a gravidez adiante. Não podemos julgar essas pessoas, apenas
esperar que Deus lhes faça justiça, não no sentido de puni-las, mas no sentido
de justificá-las, dado que não tem suporte para tanto.
Isso que acabei de
exemplificar são duas coisas em posições diferentes em que é difícil fazer
julgamentos ou dizer quem está certo ou errado, outra é achar que ter um filho
é como ir ao mercado comprar uma TV de led de 50 polegadas e querer que ela
funcione e caso isso não aconteça querer devolvê-la ao fabricante ou ficar com
raiva e querer jogá-la fora. Isso tudo porque muitos acabam internalizando um
sistema de consumo tão violento, e o canalizam também para as áreas da vida. Um
filho nesse caso é apenas um sonho de consumo.
O assunto é complexo
e essa complexidade não pode ser abarcada por uma lei, todavia, muitos
despreparados irão se agarrar a ela para fugir de suas responsabilidades
paternas e maternas. Também é difícil julgar alguns casos pelo fato de terem
solicitado a interrupção da gestação. Cada caso deve ser visto como particular,
contudo a verdadeira justiça não seremos nós que faremos. Cabe a nós saber
votar em bons políticos, se é que eles existem, e estarmos sempre presentes
nesse mundo como uma lâmpada no alto, para que possamos iluminar a todos que
estejam na casa. Essa casa que chamamos de mundo.
[1] Nadimir Quadros é bacharel
em teologia; pós-graduado em Catequética, pós-graduando em Filosofia, Educação
e existência, graduando em Filosofia e pós-graduando em Filosofia Clínica.
www.twitter.com/nadimir
E-mail: nadimirquadros@yahoo.com.br
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