Vitórias


Muitas jornadas temos que completar sozinhos. Nós e Deus. Alguns nos impulsionam. Confiam em nós ou simplesmente nos ouvem. Sabemos que vale a pena prosseguir, pois temos a certeza do que nos espera. Deixamos as quedas de lado para levantar em direção à vitória definitiva, ainda que ela demore um pouco.
Não importa qual seja o destino, como diz a música de um grande compositor, "você não saberá, se não seguir pra ver o que há no fim da estrada". Muitas vezes o destino é livrar-se de algum defeitinho de caráter, de um "pecadinho de estimação", da gula por chocolate, de beber, da falar alto, de falar demais, de falar dos outros, da religião dos outros. Às vezes é ter mais "tato" com nossos semelhantes, respeitando suas opções e fraquezas, sem querer impor a nossa verdade. É também aprender a respeitar o silêncio alheio.
Essas vitórias não nos tornarão melhores do que os outros, mas nos tornarão alguém melhor. Não são simples como chegar na agência, pedir o carro do ano, pagar e sair se exibindo por aí. E não o são porque acontecem no lugar de mais difícil acesso: dentro de nós. É ali que mostramos o quão forte somos. E não nos holofotes sociais. Nessas mudanças talvez apareça aquele detalhe que faz a diferença no relacionamento humano.
Alguns dizem que nos apóiam, mas, nas atitudes, dão espaço ao escárnio, especialmente se saímos vitoriosos. Outro dia ouvi dizer que é mais fácil chorar junto com o outro do que se alegrar com a vitória dele. Verdade? Penso que sim, na medida em que só o verdadeiro amigo é capaz de se rejubilar com a vitória de outrem.
Na clínica de fisioterapia, pensava em quantas pessoas chegam com dor e limitação de movimentos após uma lesão esportiva ou cirurgia. Os dias vão passando e só ela e o profissional sabem o quanto foi exigida fisicamente para atingir a melhora esperada. Agora que concluímos mais 29 (vinte e nove) seções ao longo desses meses, a ausência de dor até poderia fazer crer que foi fácil. Mas não. Não foi. Organizar a agenda, aguentar a dor, fazer os exercícios em casa, perseverar...tudo isso longe dos olhos alheios. Essa é apenas mais uma experiência entre tantas outras. Não a mais difícil e nem a mais fácil. Apenas é minha. Espero que possa servir para o meu crescimento espiritual, especialmente me preparando para situações "mais difíceis".
Tudo isso é motivo para reflexão. Não é à toa o relato dos Quarenta Dias no deserto, pelos quais Jesus passou. A oportunidade de desenvolver o autodomínio não pode ser desperdiçada.  Por isso, a Quaresma.

Comentários

Liliana Sobieray disse…
Detesto quando alguém olha pra mim e diz: "Ah foi difícil, mas passou, né?" Chamo de banalização da dor alheia.... Não digo esta frase pra ninguém... Sou sempre solidária aos problemas enfrentados e AMO comemorar as vitórias com os meus!!!! Bjos amigo querido, sempre uma delícia seus textos e muito pertinentes...